terça-feira, 4 de agosto de 2009

Há um ano atrás, era o dia dos pais

Há um ano atrás, era o dia dos pais.
Estava em Brasília, tempo seco, longas festas, inúmeras reuniões, entre amigas, as melhores.
Lembrei da data, pensei em ligar, estava chapada, um pouco bêbada, talvez percebessem, exitei.
Há um ano atrás era o dia dos pais.
Na sala, vídeo-games, diversos artifícios, salgadinhos, cervejas, barulho, muito barulho. Era o dia dos pais.
Fui à varanda, tranquei a porta. Fiz um interurbano, liguei a cobrar, musiquinha tocou, deu um aperto sim, bobagem, voltaria na semana que vem. Mas, era o dia dos pais.
Ela atende, falo algumas coisas poucas sobre o clima, sobre o cancelamento da reunião com a ministra, turbulências do vôo, nunca tínhamos muito assunto a conversar, e ela então passa pra ele, como sempre preocupado, há algum tempo achava tudo muito perigoso. Brasília, Rio Janeiro, São Paulo, não importava, era tudo muito perigoso. Desejei o de sempre, não me cabia dizer muitas coisas, do outro lado da porta, música, jogos, bebidas, algumas coisas me esperavam. Era o dia dos pais, e com um afeto singelo, tímido, dei uma pausa nas felicitações e me despedi, disse que voltaria na próxima segunda, mas troquei o vôo, como de costume, não voltei. Antes de desligar pensei ainda em dizer algo, em ser verdadeira, em me deixar ser filha, mas a minha racionalidade em saber que era um dia comercial, que foi feito para que pessoas comprassem e gastassem e..e..e(..)
Como sempre, a minha racionalidade, a filha da puta da minha racionalidade me fez dizer, Adeus, Até semana que vem.
Ele então, não insistiu, desligou. Sem presentes, sem presença, apenas um breve, até semana que vem.
Era o dia dos pais, o último!
Ainda me sinto frágil.
Essa noite me veio cada detalhe daquele dia terrível, seu corpo frágil, sua involutariedade, a submissão, o fim.
Eu admirava o seu orgulho, repugnava sua violência, mas desde cedo entendi a sua forma de se fazer ser respeitado. Isso era importante né? Pra mim também.
Saudades viu? Eu queria você hoje, sua preocupação, sua atenção, suas perguntas, suas visões, os seus bilhetes em cima da mesa, na porta do quarto...
É sofrido viu? Lembrar da verticalidade, dos aparatos, daquele odor. De verdade, eu não queria estar lá, não gostaria de ter essas lembranças, não mesmo. Mas, as tenho. Vezes ou outra as tenho.
Amanhã te visitarei. Levarei flores.
Eu te amo, cara! Vai ser pra sempre.